Povo Brasileiro, o exílio como Identidade

23/08/2012 15:21

Na formação da nossa identidade, navegamos entre o português degredado que nos encharcalhou o peito de saudades, o africano arrancado à força da sua terra que nos estraçalhou  o coração com o Banzo e o índio que nous esvaiu a alma com a desesperança, exilado em sua própria terra. Nossa memória é construida como um quebra-cabeças de lembranças fragmentadas (m buraco negro, lotado de olvidos) de uma terra do nunca mais, criada e recriada na ausência e no ir e vir sem sossego. Nossa memória dá voltas sobre si-mesma,ora de  tal o Oroborus interminável. Este momento é o de falar, dse dizer o que se sente,  o que se pensa e o que se ocultou durante séculos no nosso Brasil sem respeito pela memória, que não tem vergonha de esfarrapar sua história e mesmo de tocar fogo.

O hino da República, aquele que diz "Liberade abre as asas sobre nós" diz em um certo verso que "nem parece que em nosso país houve escravos. Isso, ele foi escrito em 1890, dois anos apenas após a hipocrisia abolicionista. Iniciaou-se assim a amnésia que perdura até hoje.

Estes poemas, contos e relatos pessoais pretendem recuperar os vestígios espalhados entre duas terras.  Através da arte expressso o contúdo da vida. Imagens de frágeis contornos, apenas o retrato de uma existência precária.

"A arte não tem pensa: o olho vê, alembrança revê, a imaginação transvê". E preciso transver o mundo, diz o poeta Manoel de Barros,que adoro e me inspira nas horas de gratidão aos poetas do mundo inteiro que se desvelam para fazer a vida ser bela e Feliz. simplesmente feliz.  

Herança

Sou neta de preto e índia

Caboclinha Yorubá

Me orgulho da mistura

E faço ostentação

Não espicho o cabelo

Não evito insolação

Tenho dos pretoíndios as cores

No coro e no coração

o Movimento ligeiro

A destreza do alazão

O resultado é danado

Leva à muita contuzão

Sem falar da confusão

Pensam que sou branca, os pretos

Pensam que sou negra, os brancos

Na verdade sou os três

Pretaíndia brasileira com tiquinho de português

Coisa besta, sem eira nem beira

O que vendia na feira bacalhau para vocês

Saibam que apreciar, é deixar tudo como está

A cabôca curimboca,

Os guris os pixãins, os meninos, os moleques

como se fossem de marré de si

Cianinhas no vestido, espora chapéu gibão

Pelo avós maternais, paternais

Caingangues, enfeitados de penas

Mulatos assanhados,

Deu Euzinha, Inêz Oludé, artista,poeta

Que mistura as penas dos índios

Com a tristeza dos pretos

E põe tudo como ungüento

Para lavar o peito e a alma

 a legrar o milharal

 

 

 

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